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Descomunizando

Post original: medium | 05/11/2018


Descomunizando header correntes

Esse texto, é um daqueles difíceis de escrever, e mais difícil ainda de desenvolver de uma forma extremamente racional, pois muito daqui vai ser emocional, mas ele é necessário.

Primeiramente, pra quem for ler e não sabe quem sou eu, vou tentar resumir pra fazer algum sentido eu estar aqui escrevendo-o. Meu nome é Gabriel Gripp, eu sou desenvolvedor web há cerca de 10 anos, e dentro desse tempo, passei por várias cidades, empresas, e lugares, conheci muita coisa, conheci muita gente foda, muita muita gente que da um orgulho fodido de ter contato e poder acompanhar de perto, e durante essas indas e vindas, até pela minha formação profissional e humana, me envolvi muito com a comunidade da qual faço parte, e flerto sempre com outras correlatas.

Em 2016, junto com outras pessoas, idealizamos um evento aqui em São Paulo, 100% gratuito e feito pra comunidade, e por pessoas da própria comunidade (o code in the dark), e sempre ajudei e participei como pude dos ecossistemas de meetups e eventos maiores, até esse ano, que junto com outras duas pessoas, pegamos um grupo de meetup, que é um dos maiores de SP (CSS-SP), para organizar, e temos feito isso como podemos, para poder continuar fomentando e levando conteúdo gratuito e de qualidade pras pessoas. Em resumo é isso, uma "mini-bio" necessária pra um contexto. Seguimos com o assunto do texto.

Ontem, no fim da tarde, o início da noite, estava eu num café conversando, e acompanhando tweets e rages aleatórios, e resolvi responder alguns deles, pq me pareceu pertinente dentro daquele contexto, pra minha ingrata surpresa, o que era pra ser algo sadio, pra ser uma discussão sobre posicionamentos de classe, privilégios, minorias, descambou pra algo, que eu carinhosamente, vou chamar de "batalha campal no twitter". (outro posicionamento, eu sou branco, hétero, cis, e uma pessoa extremamente privilegiada em diversos aspectos, tanto atualmente por cargo/salário, quanto por ter um pai com Doutorado, e uma mãe pós-graduada, funcionária pública de carreira)

Eu cometi o "pequeno deslize", de querer falar de privilégios, pra quem me conheçe, sabe o quanto eu sou um lutador pela defesa e direitos de quem precisa, seja ela quem for, e uso sim, todos os meus privilégios, pra tentar fazer alguma diferença pra sociedade e pra comunidade que eu estou envolvido. Mas ontem, diferente de tudo que eu estava acostumado, de pessoas que lutam e que defendem seus pontos de forma embasada, ontem foi um caos, vi pessoas que são de posicionamento muito parecido com o meu, mas que fazem parte dessas minorias, e ao invés de tentar argumentar o sermos coerentes, partiram pro ataque, literalmente partiram pra cima de quem estava levemente se opondo ao fato deles estarem "procurando confusão", e atacando pessoas que não escrevessem e falassem exatamente o que eles queriam ler/ouvir, e foi só piorando cada vez mais.

Como falei, sou branco, e por histórico, sou de uma cor que já nasce com privilégios, nunca vou negar e falar o contrário, justamente por não ser um hipócrita, não acredito no "racismo reverso", ou no "preconceito contra brancos", mas eu sou muito, MUITO a favor de igualdades, e principalmente de respeitar pra ser respeitado, e isso foi exatamente o contrário do que tive ontem, eu somente me posicionei, tentando argumentar que atacar ferozmente algumas pessoas não iria legitimar e enaltecer a luta, muito pelo contrário, que ódio só iria gerar ainda mais ódio, mas fui "recebido", por essa galera com 7 pedras, e tive de ler coisas como:

Print twitter/X

que no ponto que foi colocado, foi um ataque completamente desnecessário, e deslegitimou tudo que eu sou e quem eu sou, somente pela minha cor, e argumentaram o uso dessa frase nesse ponto, como "é somente um meme, e deve ser tratado como brincadeira", pretos que defendem sua cor e o quão ela é alvo de preconceitos e discrepâncias habituais, usando justamente a cor de alguém pra "fazer piada?", sério?! Li coisas como: "quando o preto fala, o branco se cala", "branco não tem direito a opinar em assuntos de minoria", e por ai vai, só que aqui ficam algumas perguntas:

"Você ganha o que atacando alguém que você não faz idéia de quem seja, somente pq ela é branca?"

"Qual a sua luta, e quem você quer ao seu lado para lutá-la?"

"Que tipo de bandeira você quer hastear na sua batalha contra o sistema, sendo que você faz exatamente a mesma coisa que acusam de fazer com você?"

Estamos vivendo um período sensível no Brasil, acabamos de ter um presidente que flerta com o fim dos direitos das minorias, e que claramente defende um "neo-apartheid", acho que está na hora da gente parar de procurar inimigos em todos os lugares, e começar a tentar enxergar quem está ao nosso lado, as bandeiras precisam ser levantadas, e sim, precisamos estar cada vez mais juntos pra resistir contra o que está por vir pela frente, e eu, diante de tudo que aconteceu ontem, estou no ponto de abrir mão da minha posição dentro da comunidade, e cuidar muito mais da minha própria vida, deixar de participar de eventos em pról da comunidade pra dar foco no meu trabalho, e cuidar das pessoas que sempre estão ao meu lado, e que sempre estiveram, eu não vou deixar de me posicionar, e de ser alguém que resiste, e que luta, mas o título do texto trata justamente da parte de ser alguém da comunidade (e de estar caminhando pra me afastar disso), e o quanto essa mesma comunidade que eu tenho um orgulho fodido de fazer parte, tem me decepcionado com posicionamentos arbitrários e completamente descabidos de lutas vãns, lutas que eo invés de posicionamento de resistência, se transformam em batalhas contra inimigos criados no calor do momento, e que poderiam ser evitadas para guardar energia para as lutas reais que deveriam e vão sim continuar acontecendo sempre, na maioria das vezes, pelas próprias pessoas que perdem a mão de saber contra o que lutar, mas que nunca jamais devem ser deslegitimizadas por suas lutas. Eu me afasto levemente de ser o "front da batalha" e dessa comunidade, pois claramente, pela minha posição, eu não tenho esse direito, mas nunca deixarei de ser quem soma minha força e tudo mais que eu puder para que as mãos não se soltem, e a linha de frente dessa resistência que tem e vai sempre existir.

Estou por perto, e espero ver todo esse movimento e toda essa "treta", gerada, sendo cada dia menos evidente, e que batalhas sejam travadas de uma forma a ter "ganhadores reais", e não para que pessoas que deveriam estar lutando um ao lado do outro, tenham de se sentir desmerecidos ou diminuidos por qualquer característica, ao ponto de não se sentir mais "parte do todo", como eu to me sentindo agora (chame de vitimismo se quiser, mas sim, me incomodou bastante).

Seguimos firmes sendo força, e ninguém solta a mão de ninguém nessa porra!

#seremosresistencia